Fernando Frazão/Agência Brasil

Lixo na pandemia: alternativas para os resíduos urbanos

Na pandemia, aqueles que “podem” estão reclusos em suas casas trabalhando em home office e cuidando dos seus familiares. O maior tempo em casa implica em um aumento no consumo de alimentos, sendo uma boa parte deles industrializados, o que acaba por gerar mais “lixo reciclável”. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), as medidas de isolamento social geraram no país um aumento de 15 a 25% na quantidade de lixo residencial.

Cada brasileiro, hoje, produz mais de 1 quilo de lixo todos os dias.  Mais de 40% de todo lixo produzido no país vai parar em aterros controlados e lixões, o que equivale a 29,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Essas duas formas de destinação são inadequadas para disposição de resíduos por uma série de fatores, como a geração de doenças e a contaminação da água no lençol freático. Somando esse número aos 10% de resíduos que não são sequer coletados pelos municípios, temos 37 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano, que poluem o meio ambiente e prejudicam a saúde da população das diversas regiões do país.

O início da solução para o problema do lixo e seus malefícios parece encontrar propostas em maiores investimentos nos setores de gestão de resíduos sólidos e consumo consciente. Ambas possibilidades estão contempladas na lei 12.305, de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Segundo essa lei, os aterros sanitários são as destinações finais mais indicadas para os resíduos que não podem ser reutilizados ou reciclados.

Entretanto, os aterros sanitários também são limitados do ponto de vista físico. Uma boa alternativa de controle do lixo urbano, portanto, é a reciclagem, que contribui para a diminuição dos resíduos destinados aos aterros sanitários e ao meio ambiente. Neste cenário, os catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis desempenham papel fundamental na implementação da PNRS, atuando nas atividades de coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e comercialização dos resíduos reutilizáveis e recicláveis, contribuindo de forma significativa para a cadeia produtiva do tratamento de resíduos sólidos.

Tais atividades desempenham importante papel para a sustentabilidade ambiental, econômica e social urbana. De acordo com a matéria publicada na revista internacional The Conservation, essas pessoas podem ser responsáveis por 58% de todo o lixo plástico coletado para reciclagem no mundo.

A PNRS traz ainda em seu arcabouço a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos que contempla, inclusive, o próprio cidadão consumidor como parte dessa cadeia e tem nela suas atribuições a serem cumpridas.

Estamos vivendo uma época de repensar nossas práticas e ações, nossos modelos econômicos, estratégias de desenvolvimento e o futuro dos padrões de consumo. A melhoria na gestão dos resíduos urbanos, com sistemas sustentáveis de reciclagem e maior participação da população no engajamento das políticas socioambientais são ferramentas chave na melhoria dos ambientes, sejam eles “urbanos” ou “naturais”. E a educação ambiental é ferramenta indispensável nessa interlocução. (Por Marcos Thiago Gaudi,  doutor em Biologia e coordenador do Projeto de Extensão Educação Ambiental na Coleta Seletiva, desenvolvido na FAESA, via Folha Vitória)

Compartilhe!